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A RESSURREIÇÃO DA CARNE SEGUNDO O PENSAMENTO DE JOSEFH RATZINGER, TEÓLOGO, ENQUANTO SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ.



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Para bem refletirmos sobre esse tema tão pertinente proposto em sala de aula, na disciplina de Escatologia Bíblica e Novíssimos, sobre a Ressurreição da carne vale levantar uma questão que tem despertado o interesse de muitos estudantes; o que é certo dizer: ressurreição da carne ou ressurreição dos mortos? E o que venha a ser essa ressurreição?

De fato as duas expressões estão dentro da profissão de fé católica e fazem parte de nosso credo, A Igreja Católica possui fórmulas dogmáticas que contém os principais pontos de sua fé e são utilizadas tanto na Liturgia quanto na Catequese, são os chamados "símbolos". Sendo assim, tem-se no Símbolo Apostólico a seguinte expressão: "Creio [...] na ressurreição da carne..." e no Símbolo Niceno-constantinopolitano: "[...] E espero a ressurreição dos mortos...", portanto, as duas expressões estão corretas.

Nas missas dominicais em grande parte das vezes, reza-se no momento da profissão de fé “creio da Ressurreição da carne” no credo simples ou credo apostólico. Já em alguns momentos fortes da liturgia durante o ano litúrgico, como por exemplo na Pascoa, a Igreja é convidada a professar o credo na formula do Símbolo Niceno-Constantinopolitano, o credo mais longo que diz: “e espero         a ressurreição dos mortos...”

Como afirmado as duas formulas estão corretas e fazem parte do nosso credo, porem A Congregação para a Doutrina da Fé percebeu que em certos missais em algumas partes do mundo a palavra "carne" fora substituída pela palavra "corpo", por isso, no dia 14 de dezembro de 1983, sob a presidência do então Cardeal Joseph Ratzinger, emitiu o documento "Decisões sobre a tradução do artigo ‘Carnis resurrectionem’ do Símbolo Apostólico" [1], no qual pediu que todas as Conferências Episcopais usassem a tradução literal da expressão que é "ressurreição da carne" e não outras semelhantes.

A discursão entre os teólogos em torno das duas sentenças e a intervenção da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé na questão pedindo que se dê ênfase no uso da expressão “ressurreição da carne” se deu pela existência de uma corrente teológica que insiste erroneamente em afirmar que existe uma ressurreição logo após a morte. É comum, e eu diria até piedoso que durante exéquias ou em homilias ouvir que aquele irmão que está sendo velado já ressuscitou. É comum, mas, é incorreto, pois a Igreja ensina que a ressurreição será somente no final dos tempos.

Nota-se que não é simplesmente uma questão semântica entre as expressões, visto que se o fosse, nem caberia essa intervenção, mas a questão é muito mais profunda que possamos mensurar, dado o motivo do pedido da tradução da expressão “dos mortos” para “da carne”, na ressurreição dos mortos, ainda que não tenha nenhum tipo de erro doutrinal, dava brechas para interpretações ambíguas, fundamentando assim a possibilidade de se acreditar na ressurreição imediata dos mortos, como o exemplo citado. Neste caso a ressurreição da carne é a confirmação daquilo que acredita a Santa Igreja, ou seja, que a carne da qual nossa alma imortal é hospede, há de ressucitar no ultimo dia. A Igreja crê que ao afirmar a ressurreição da carne está sendo mais clara e enfática no fato de que aquela carne que está sendo velada e sepultada é que ressuscitará no último dia.

Dada a explicação semântica, e os problemas de interpretação de conceitos do que venha a ser a expressão mais adequada, passemos agora a analisar como a Santa Igreja em seu sagrado magistério explica essa ressurreição da carne. Como é e como se dará?
Para entendermos melhor essa questão, faremos um mergulho no pensamento do Cardeal Joseph Ratzinger, quando ainda presidente da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé em 17 de Março de 1979 numa carta que fora emitida afim de orientar a Igreja sobre “questões referentes à escatologia".

"Esta Sagrada Congregação, responsável pela promoção e a proteção da doutrina da fé, quer aqui lembrar o que a Igreja em nome de Cristo ensina, de modo especial a respeito do que acontece entre a morte do cristão e a ressurreição universal.

1. A Igreja crê na ressurreição dos mortos.
2. A Igreja entende que a ressurreição se refere ao homem todo; para os eleitos, ela outra não é senão a extensão da própria ressurreição de Cristo aos homens.
3. A Igreja afirma a continuação e a subsistência, depois da morte, de um elemento espiritual dotado de consciência e vontade, de modo a existir no tempo intermédio o próprio ‘eu humano’, carecendo, porém do complemento do corpo. Para designar este elemento, a Igreja emprega o termo ‘alma’, consagrado pelo uso da Sagrada Escritura e da Tradição. Embora não ignore que este termo possui diversos sentidos na Bíblia, julga, todavia, que não se pode dar nenhuma razão válida para rechaçá-lo e, ao mesmo tempo, julga ser absolutamente necessário um termo de linguagem para sustentar a fé dos cristãos.
4. A Igreja exclui toda forma de pensamento ou de expressão que torne absurdo ou ininteligível seu modo de orar, seus ritos fúnebres, seu culto dos mortos - realidades estas que, substancialmente, constituem lugares teológicos.
5. A Igreja, em conformidade com as Sagradas Escrituras, espera ‘a gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo’, que, aliás, ela crê distinta e ulterior em comparação com a condição dos homens imediatamente após a morte.
6. A Igreja, em seu ensinamento sobre a condição do homem depois da morte, exclui, porém, qualquer explicação que esvazie o sentido da Assunção da Virgem Maria no que tem de único; a saber, nesse sentido, que a glorificação corpórea da Virgem é a antecipação da glorificação reservada a todos os eleitos.
7. A Igreja, em adesão fiel ao Novo Testamento e à Tradição, crê na felicidade dos justos que um dia estarão em Cristo. Ela crê no castigo eterno que espera o pecador, que será privado da visão de Deus, e na repercussão desta pena em todo seu ser. Crê, enfim, que para os eleitos possa haver uma eventual purificação prévia à visão divina, totalmente diversa, porém, do castigo dos condenados. É isso que a Igreja entende quando fala do inferno e do purgatório.
Quando se trata da condição do homem depois da morte é preciso precaver-se, de modo especial, do perigo de representações arbitrárias e baseadas só na imaginação, pois seus excessos formam parte importante das dificuldades que amiúde a fé cristã encontra. As imagens usadas pela Sagrada Escritura, no entanto, merecem respeito. É necessário compreender o significado profundo das mesmas, evitando o perigo de atenuá-las demais, pois isso vale muitas vezes a esvaziar de seu conteúdo as realidades que estas imagens representam.
Nem a Sagrada Escritura, nem os teólogos fornecem luz suficiente para uma descrição adequada da vida depois da morte. Os fiéis cristãos devem manter firmemente estes dois pontos essenciais: por um lado, crer na continuidade fundamental existente, em virtude do Espírito Santo, entre a vida presente em Cristo e a vida futura (pois a caridade é a lei do reino de Deus, e pela nossa caridade exercida na terra se medirá nossa participação na glória divina no céu); mas, por outro lado, o cristão deve estar consciente da ruptura radical que há entre a vida presente a futura, já que a economia da fé é substituída pela economia da luz plena, e nós estaremos em Cristo e ‘veremos Deus’; e nestas promessas e mistério consiste essencialmente nossa esperança. Se a imaginação não consegue chegar até aí, o coração chega instintivamente e em profundidade." (DH 4650-4659)

A notável beleza e a riqueza do texto de Ratzinger dispensam comentários sobre o que é o ensinamento da Igreja a esse respeito, é claro que isso não reduz a complexidade da questão, algo que nem a congregação pôde negar, mas pontuaremos alguns aspectos que achamos por bem ressaltar. No ítem 2. o documento reafirma a centralidade de Cristo. Se acreditamos que nosso corpo há de ressuscitar no ultimo dia, é porque em fomos ressuscitados e pela virtude da cruz. A ressurreição da carne seria uma extensão da própria ressurreição de Cristo.

No ítem 3. vemos a necessidade de reafirmação da subsistência da alma  depois da morte. A carência do complemento corpo parte do pressuposto de que a alma, permanecendo viva, ainda que sendo o elemento espiritual é dotada de consciência e vontade de modo a existir no tempo intermediário ao próprio “eu-humano”. Outro grifo nosso é o fato de a Igreja não ignorar que exista diversas interpretações, inclusive erronias a cerca do termo alma, todavia, se apega às sagradas Escrituras e à Tradição para o uso consagrado da expressão, denotando o caracter espiritual e eterno da alma.

Para que não haja possibilidade de usar dessa teologia para reduzir ou esvaziar o sentido da Gloriosa Assunção de Maria aos céus, a Sagrada Congregação da Doutrina da Fé no item 6. nos faz lembrar que essa condição do homem frente à morte é o caminho para se chegar à glorificação da carne, na qual Maria fora a inauguradora entre todas as criaturas.

E num outro momento, o documento nos adverte à nos afastarmos do perigo das imaginações férteis e das representações arbitrárias que só atrapalha e nossa compreensão no que tange à teologia dos novíssimos. Porem ele ainda adverte que as imagens usadas pelas Sagradas, bem como toda a realidade por essas imagens representadas, independente de qualquer situação merecem todo o nosso respeito.

Para finalizar, o Cardeal Ratzinger deixa-nos um aconselhamento de como deve ser nossa atitude diante do que nos diz as escrituras sobre a morte. Ele vai dizer que a esse respeito, nem mesmo os teólogos e as Sagradas Escrituras pôde nos dar descrições fundamentalmente adequadas da vida depois da morte, até porque ninguém morreu e voltou pra dizer como é a vida do outro lado, o Cristão deve guardar a esperança e na graça do Espirito Santo derramado ainda na vida presente, Ele é quem guia e prepara os nossos passos rumo ao grande dia em que o veremos face a face e nós estaremos em Cristo Jesus. Enquanto esse grande dia não chega, podemos contemplá-la com o coração, pois se a imaginação não consegue chegar até lá, e assim compreendê-la, o coração chega instintivamente e em profundidade para sentí-la.

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